Trabalho de Literatura Sobre a obra "O Cortiço"
Trabalho de Literatura Sobre a obra "O Cortiço"

Este trabalho foi feito em co-autoria com colegas da área de Letras, amigos queridos que tenho em grande estima, mas que não divulgarei os nomes por não ter solicitado autorização dos mesmos.

A pesquisa da obra O Cortiço nos mostra a complexidade e genialidade de um autor que explorava os sentimentos e desejos humanos: Aluísio Azevedo. Boa leitura!

1       
ESCOLA
LITERÁRIA

 

 

 

           
Naturalismo

 

 

 

Por volta de 1870, assistiu-se a saturação do Romantismo. O progresso
definitivo das cidades, a industrialização, o avanço das ciências e o
florescimento de novas correntes filosóficas criaram um ambiente hostil ao
sentimento romântico. Os tempos exigiam uma arte responsável, que registrasse a
observação objetiva da realidade.

Na segunda metade do século XIX, o contexto sociopolítico europeu mudou
profundamente. Lutas sociais, tentativas de revolução, novas idéias políticas e
científicas. A literatura não podia mais viver de idealizações como no
Romantismo.

Em resposta a
esta necessidade nascem quase ao mesmo tempo e se entrelaçam mutuamente: o
Naturalismo, o Realismo e o Parnasianismo.

 

 

Naturalismo:

 

- Forte
influência da literatura de Émile Zola (França);

- Romance
experimental, apoiado na experimentação e observação científica;

- A investigação
da sociedade e dos caracteres individuais ocorre “de fora para dentro”, os
personagens tendem a se simplificar, pois são vistos como joguetes, pacientes
dos fatores biológicos, históricos e sociais que determinam suas ações,
pensamentos e sentimento;

- Volta-se para
a biologia e a patologia, centrando-se mais no social;

- As obras
retratam as camadas inferiores, o proletariado, os marginalizados e,
normalmente, os personagens são oriundos dessas classes sociais mais baixas;

- O tratamento
dos temas com base em uma visão determinista conduz e direciona as conclusões
do leitor e empobrece literariamente os textos.

 

 

 

           
Características
do Naturalismo

 

 

 

- Determinismo
biológico;

- Objetivismo
científico;

- Temas de
patologia social;

- Observação e
análise da realidade;

- Ser humano
descrito sob a ótica do animalesco e do sensual;

- Linguagem
simples;

- Descrição e
narrativa lentas;

- Impessoalidade;

- Preocupação
com detalhes.

 

 

 

1.3 Diferenças entre o Naturalismo e o
Realismo

 

 

 

É muito comum o emprego de termos Realismo e Naturalismo, associados.
Algumas vezes aparecem como sinônimos e em outras aparecem como duas estéticas
literárias muito próximas. Entretanto, é possível perceber a diferença entre a
prosa realista e a prosa naturalista, apesar dos pontos comuns. Enquanto o
Realismo procura ter uma visão global do narrado, explorando a vida psicológica
de suas personagens, o Naturalismo atém-se à vida biológica das personagens,
isto para comprovar as teorias determinista e darwinista que equiparam o homem,
excluída sua capacidade de raciocínio, a um animal. Por este motivo, os
romances naturalistas são classificados como "de tese". Outra diferença
diz respeito ao espaço social e à classe enfocada. O escritor realista se volta
preferencialmente para a descrição da vida burguesa, e para os problemas que
este modo de viver produz ao indivíduo e ao corpo social, por isso a
preocupação com o psicológico. O escritor naturalista, por sua vez, busca no
espaço coletivo - como cortiços, casas de pensão, escolas - nas camadas pobres
da população, a comprovação de suas teses.

Aluísio Azevedo, com a obra “O mulato”, em 1881 marcou o início do
Naturalismo no Brasil.

As diferenças entre o Naturalismo e o Realismo podem ser observadas: No
realismo a investigação da sociedade e dos caracteres individuais é feita de
“dentro para fora”, isto é, por meio de uma análise psicológica, capaz de
abranger toda a sua complexidade, utilizando entre outros recursos a ironia,
que sugere e aponta, em vez de afirmar, dá ênfase nas relações entre os homens
e a sociedade burguesa, atacando suas instituições e seus fundamentos
ideológicos, faz um tratamento imparcial e objetivo dos temas e garante ao
leitor um espaço de interpretação, de elaboração de suas próprias conclusões a
respeito das obras.

Por outro lado, no Naturalismo observa-se o seguinte, a investigação da
sociedade e dos caracteres individuais ocorre de fora para dentro, as
personagens tendem a se simplificar, pois são vistas como vítimas dos fatores
biológicos e sociais que determinam suas ações, pensamentos e sentimentos, há
grande ênfase nas descrições de coletividades, dos tipos humanos, que encarnam
os vícios, as taras, as patologias e as anormalidades reveladoras do parentesco
entre o homem e o animal, o homem descendo a sua condição animalesca de mero
produto das circunstâncias externas, como a hereditariedade, e o meio ambiente,
o tratamento dos temas a partir de uma visão determinista conduz e direciona as
conclusões do leitor.

Realismo:

- Forte
influência da literatura de Gustave Flaubert (França);

- Romance
documental, apoiado na observação e na análise;

- A investigação
da sociedade e dos caracteres individuais é feita “de dentro para fora”;

- Volta-se para
a psicologia, centrando-se mais no indivíduo;

- As obras
retratam e criticam as classes dominantes;

- O tratamento
imparcial e objetivo dos temas garantem ao leitor um espaço de interpretação,
de elaboração de suas próprias conclusões a respeito das obras.

 

 

 

1.4 O Naturalismo na obra O cortiço.

 

 

 

Dentro da obra O cortiço, podemos verificar os traços marcantes do
Naturalismo como:

- Revelação da
miséria urbana;

- Enfoque nas
classes marginais;

- Determinismo
do meio (tese dominante);

- Domínio do
coletivo sobre o individual;

- Desagregação
dos instintos.

Há vários trechos na obra em que podemos observar características
naturalistas, onde indivíduo traz dentro de si instintos hereditários, que
explodem repentinamente em manifestações de luxúria, tara, indignidade e
crimes. Por mais que cada um desenvolva sua racionalidade, seu domínio sobre si
próprio, ajustando-se à convivência social, nunca será suficientemente forte
para domar as forças subterrâneas que vêm à tona, arrastando-o a um universo de
anormalidades e vícios.

Em O
Cortiço
encontramos a seguinte passagem, que nos pode dar
uma idéia da força do instinto:

“Amara-o a
princípio por afinidade de temperamento, pela irresistível conexão do instinto
luxurioso e canalha que predominava em ambos, depois continuou a estar com ele
por hábito, por uma espécie de vício que amaldiçoamos sem poder largá-lo; mas
desde que Jerônimo propendeu para ela, fascinando-a com a sua tranqüila
seriedade de animal bom e forte, o sangue da mestiça reclamou os seus direitos
de apuração, e Rita preferiu no europeu o macho de raça superior.”

Segundo Alfredo Bosi, na obra História
Concisa da Literatura Brasileira
(2006):

 

Só em
O cortiço Aluisio Azevedo atinou de fato com a fórmula que se ajustava ao seu
talento: desistindo de montar um enredo em função de pessoas: ateve-se a
seqüência de descrições muito precisas, onde cenas coletivas e tipos
psicologicamente primários fazem, no conjunto, do cortiço a personagem mais
convincente de nosso romance naturalista. Existe o quadro: dele derivam as
figuras.

 

 

 

 

 

 

 

 

2 ELEMENTOS DA NARRATIVA

 

 

 

2.1 Enredo - Resumo da Obra: O cortiço

 

 

 

João Romão era um português que morava em Botafogo no Rio de Janeiro e
trabalhava como empregado em uma venda que adquiriu posteriormente, quando seu
patrão a deixou para ele em troca de honorários vencidos. Ele que já trabalhava
duro, passou a trabalhar ainda mais e economizar muito, pois possuía um grande
desejo de enriquecer. Nem sequer uma cama para dormir ele comprava, dormia no
balcão da venda.A sua comida era feita por Bertoleza, escrava de um velho cego
e esposa de um português, que  trabalhava
muito em uma quitanda e que  pagava a seu
dono  e guardava dinheiro para comprar
sua alforria.

O marido de Bertoleza morre trabalhando, e João Romão se aproxima dela,
fazendo-se seu maior confidente e amigo, tanto que a escrava passa a confiar
nele de tal maneira que ele passa a administrar toda a vida financeira dela,
encarregando-se, inclusive de remeter ao seu dono os vinte mil réis que ela
tinha que mandar-lhe mensalmente. João trazia consigo um caderno escrito: Ativo
e Passivo de Bertoleza, onde ele fazia anotações e controlava o dinheiro da
escrava.

Em pouco tempo, Bertoleza e João Romão estavam amigados e com as
economias de Bertoleza ele compra um terreno ao lado da venda e levanta uma
casa de duas portas, onde a parte da frente era a quitanda e atrás ficava um
dormitório onde ele passou a viver com ela.

João Romão forja
uma declaração de alforria que ele apresenta a Bertoleza como legítima, dizendo
que ele havia entrado com o valor que faltava para ela obter a sua liberdade.
Entretanto, o velho dono da escrava segue acreditando que Bertoleza havia
fugido depois da morte do marido.

João Romão e Bertoleza trabalhavam muito e economizavam ao máximo, tanto
que dentro de um ano, ele comprou outra parte do terreno e construiu três
casinhas. As casas foram construídas por eles próprios e o material para a
construção era roubado de construções vizinhas.

Estas três casas formaram apenas o ponto de partida para o cortiço São
Romão, pois ele continuou comprando partes do terreno ao redor da venda e
construindo casas de aluguel.

O português
trabalhava, roubava e economizava, passava as mais diversas privações.
Bertoleza também trabalhava excessivamente.

Em pouco tempo João Romão teve dinheiro para adquirir uma parte de uma
pedreira que tinha ao fundo da venda e que já desejava possuir. E foi o que
fez, comprou parte da pedreira e colocou alguns homens lá para trabalharem para
ele.

João prosperou tanto e tão rapidamente que em um ano e meio, todo o
espaço entre a pedreira e as três primeiras casas que construiu lhe pertencia.

Nesta época vendeu-se um sobrado à direita da venda, que foi comprado por
um negociante português chamado Miranda, que se mudou logo para lá com a esposa
Dona Estela e a filha Zulmira.

Miranda e Dona Estela viviam numa relação cheia de altos e baixos, tanto,
que ele não tinha certeza sobre sua paternidade com relação à menina.

O sobrado que Miranda adquiriu não tinha quintal, então ele propõe à João
Romão que lhe venda parte do terreno ao lado da venda ou parte dos fundos até a
pedreira e como os dois portugueses não conseguem chegar a um acordo com
relação ao terreno, trava-se entre eles um círculo de inveja mútua, disputas e
confusões.

João Romão idealiza construir o maior cortiço de Botafogo, e continua
construindo casas de aluguel por todo o terreno.

Neste período instalou-se naquela região uma fábrica de massas e outra de
velas, os funcionários destas fábricas faziam suas refeições na quitanda de
João, e este prosperava a olhos vistos, em breve aboliu a quitanda e aumentou a
venda que a esta altura tornara-se um armazém, tamanha a variedade de produtos
que ele vendia.

As casas continuavam sendo construídas no cortiço e eram alugadas
rapidamente e Miranda estava ficando furioso, pois o cortiço crescia sob suas
janelas, fez então, um muro que separou sua casa da estalagem.

Noventa e cinco casinhas foram construídas e João Romão providenciou uma
tabuleta com os dizeres: “Estalagem de São Romão. Alugam-se casinhas e tinas
para lavadeiras”.Logo o cortiço estava repleto de lavadeiras, algumas moradoras
da estalagem, outras alugavam as tinas por dia, pois ali havia água em
abundância e espaço de sobra para secar as roupas ao sol.

 

 

Durante dois anos o cortiço prosperou dia após dia, e isto alimentava o
ódio do Miranda que não se conforma em ver o progresso do vizinho, tinha inveja
dele, pois Miranda fez nome e fortuna ao se casar com Dona Estela, João ( pelo
ponto de vista de Miranda) fazia fortuna com as próprias mãos.

Em meio a vários pensamentos sobre sua relação com a esposa que o
desonrara e um enorme sentimento de inveja pelo vizinho, surgiu em Miranda um
novo ideal, tornar-se-ia um barão, sabia que poderia pleitear o título em
decorrência da linhagem familiar da esposa. E este ideal muda completamente o
comportamento de Miranda, ele passa a dissimular seu ódio pelo vizinho, passa a
agir e a se comportar como um nobre.

Nesta época o filho de um fazendeiro cliente de Miranda vem hospedar-se
no sobrado, seu nome é Henrique, um rapaz de quinze anos muito delicado e com
trejeitos femininos.O sobrado de Miranda comporta agora, ele próprio, a esposa,
a filha, Henrique, o velho Botelho, um velho amargurado que morava com a
família há algum tempo, e  a criadagem
que era composta por Isaura, Leonor, e Valentim (filho de uma escrava
alforriada).

Em pouco tempo, contrariando a sua aparência delicada e feminina,
Henrique envolve-se com Dona Estela e são surpreendidos por Botelho em meio a
um encontro indiscreto. Entretanto, o velho já acostumado ao comportamento de
Dona Estela, resolve nada revelar a Miranda e apenas alerta o casal para terem
mais cautela no futuro.

No cortiço a vida segue seu curso e o vai e vem de lavadeiras em saias
arriadas e vendedores de peixes e pães, também não pára, assim que o dia
amanhecia já era possível ver a fila de lavadeiras trabalhando cada qual em uma
tina, eram elas:

- Leandra,
portuguesa feroz, a “machona”, como era conhecida, tinha duas filhas, uma era
moça ainda e se chamava Nenem, a outra era separada e vivia no cortiço, mas em
outra casa e se chamava Ana das Dores, “das Dores”, e um filho chamado
Agostinho;

- Augusta
Carne-Mole, brasileira, branca, mulher de Alexandre, soldado da polícia, tinham
filhos pequenos e entre eles a pequena Juju, que vivia na cidade com a madrinha
Léonie, uma cocote de origem francesa;

- Leocádia,
mulher de um ferreiro chamado Bruno, e que tinha fama de leviana;

- Paula, cabocla, benzedeira, tinha dentes serrados e
aparência estranha, era conhecida como “Bruxa”.

 - Marciana, uma mulata extremamente asseada,
mãe de Florinda uma moça virgem que era assediada por João Romão e por outros
homens;

 

- Dona Isabel,
velha portuguesa, viúva, o marido suicidou-se e ela se sacrificava ao máximo
para educar a filha Pombinha. Pombinha era noiva de João da Costa, comerciante
de futuro promissor, mas ainda não se casavam, pois a moça, apesar de seus
dezoito anos, ainda não havia tido a primeira menstruação. Pombinha era admirada
no cortiço, pois havia estudado, lia o jornal e escrevia cartas para alguns
moradores quando lhe solicitavam. A mãe não deixava a moça lavar e engomar
roupas;

- Albino, moço
afeminado, era lavadeiro, fraco, magro, vivia entre as mulheres do cortiço e
agia como elas, e elas o tratavam como sendo do mesmo sexo.

E entre todos os moradores do cortiço havia uma lavadeira que
destacava-se por sua beleza e sensualidade, chamada Rita Baiana, que tinha fama
de assanhada e que dizia não querer se casar com ninguém. O fato da baiana não
se preocupar tanto com seu serviço quanto com seus casos amorosos, faziam dela
alvo de fofocas e maldizeres das outras lavadeiras do cortiço, mas ela era
muito querida por todos.Rita era amante de Firmo, um oficial ferreiro e
capoeirista, que não morava no cortiço, mas que a visitava sempre.

João Romão prosperava ainda mais, os consumidores do armazém e da
quitanda, eram em sua maioria, trabalhadores da pedreira e moradores do
cortiço, ou seja, o dinheiro circulava em vários postos e retornava para ele e
Bertoleza continuava trabalhando muito, e auxiliando-o o tempo todo.

Certo dia, chega para trabalhar na pedreira, um português chamado
Jerônimo, que se instala no cortiço com sua esposa Piedade de Jesus, o casal
tinha uma filha pequena que estudava em um internato.

Jerônimo era extremamente trabalhador e em pouco tempo inteirou-se do
serviço na pedreira, tornando-se diretor do serviço, o que lhe rendeu grande
prestígio entre os moradores do cortiço. Ele a esposa se enquadraram
rapidamente ao cotidiano do cortiço, mas o som da guitarra portuguesa, tocada
em algumas noites, fazia-o lamentar a sua vinda para o Brasil e as saudades de
Portugal o corroíam por dentro.

Num domingo de abril, Rita Baiana, retorna ao cortiço depois de passar
meses fora da estalagem. Ela é muito bem recebida por todos no cortiço e chega
informando aos amigos que estava em Jacarepaguá com Firmo durante o tempo em
que esteve fora.

A chegada de Rita é motivo de muita festa, até mesmo o velho judeu
Libório, que já contava com oitenta anos, ficou extremamente feliz com o
retorno da baiana. E festa era o que Rita mais gostava, tanto que nesta mesma
noite ele organizou um jantar para receber Firmo e um amigo dele Porfírio.

Na casa da das Dores, também houve um jantar nesta noite, e a animação no
cortiço foi grande até altas horas, pois vários moradores forma convidados para
ambas as festas.

Miranda, do alto do sobrado, se incomodava com as festas e gritava e
esbravejava pela janela para que parassem com o barulho. Todavia as festas não
paravam, e o som da guitarra portuguesa só cessou para dar espaço a alegre
música baiana, música esta que encantou Jerônimo, ao ver Rita Baiana dançando,
pela qual ele se apaixonou imediatamente.

Logo depois Jerônimo fica doente e Rita presta-lhe cuidados, ensinando-o
tomar café com parati, para curar a gripe, em detrimento ao chá português
tradicionalmente usado por sua esposa para o mesmo fim.

Das janelas do sobrado do Miranda, Henrique assedia Leocádia, e em pouco
tempo os dois são surpreendidos por Bruno num terreno vizinho a casa em
situação constrangedora. Bruno expulsa Leocádia de casa, e esta vai viver com
Rita Baiana.

Passado algum tempo percebe-se uma mudança em Jerônimo, ele estava
“abrasileirado”, o seu desejo por Rita Baiana, fazia com que ele modificasse
culturalmente e ele passa a deixar costumes portugueses e adota costumes
brasileiros.

Piedade sofria calada ao ver as mudanças de comportamento do marido. Mas
o amante de Rita, Firmo, mesmo não morando na estalagem, dormia todas as noites
com a Rita, e já havia percebido os olhares do português para sua amante, e
demonstrava isso.

Na casa de número doze, Marciana descobre que Florinda está grávida de um
caixeiro da venda de João Romão, que se recusa casar com a moça. João
encarrega-se então de ficar com os honorários devidos ao seu funcionário e
entregar o dinheiro a moça como forma de dote, entretanto após o caixeiro fugir
no meio da noite João fica com o que lhe era devido, mas não repassa a Florinda
ou a sua mãe.

Marciana bate em Florinda depois de não conseguir resolver a sua situação
com o caixeiro levando o problema a João Romão, a moça então foge da estalagem.

Léonie chega ao cortiço trazendo a pequena Juju. Leónie, mesmo sendo
cocote, era muito respeitada no cortiço por ser rica. Como era muito amiga de
Pombinha, a cocote a convida e a sua mãe para jantarem em sua casa num outro
dia.

No sobrado do Miranda prepara-se uma grande festa, pois ele receberá o
título de Barão de Freixal. Esta notícia varre o cortiço rapidamente e João
Romão sente inveja do vizinho e passa a se imaginar-se vivendo como ele,
freqüentando a alta sociedade.

 

 

Até este momento João havia se privado de qualquer luxo, todas as suas
economias eram convertidas em outras formas de ganhar dinheiro. Mantinha-se em
um pequeno cômodo junto com Bertoleza, e jamais havia pensado em mudar ou
melhorar suas dependências, suas roupas, nem mesmo sua alimentação, todo o
dinheiro que ganhava guardava. João sabia como se comportar nos salões da alta
sociedade, e o fato do vizinho tornar-se barão deixava-o muito nervoso.

Neste período ele despejou Marciana de sua casa, esta ficou ensandecida e
havia começado beber depois da fuga da filha Florinda, já não pagava o aluguel
em dia.

João Romão foi
convidado para a festa de Miranda, e o convite, embora ele não fosse à festa, o
deixara ainda mais perturbado. Nesta mesma noite no cortiço houve uma grande
festa, e Jerônimo declara seu amor para Rita, e ela corresponde a seus
galanteios. Isto dá inicio a uma briga violenta entre Jerônimo e Firmo, e que
só termina quando Firmo dá uma navalhada em Jerônimo e foge.

A polícia chega ao cortiço, mas tanto João Romão, quanto os moradores não
queriam deixar a policia entrar, e quando finalmente a polícia invade o cortiço
e é recebida pela massa furiosa de moradores. O cortiço tinha suas próprias
leis.

Neste meio tempo a Bruxa, por influência da loucura de Marciana, coloca
fogo no cortiço, mas as chamas são contidas rapidamente.

A policia sai do
cortiço sem levar ninguém preso e mesmo no dia seguinte na delegacia, onde
vários moradores foram convocados a prestar esclarecimentos sobre o ocorrido
nada se descobriu.

Rita Baiana cuida de Jerônimo no hospital e Piedade sente cada vez mais
perto uma certeza que já lhe consumia a alma, perderia seu marido. Não para o
ferimento que ele tinha sofrido pela navalha de Firmo, mas para aquela baiana
inescrupulosa que o afagava ali mesmo na frente dela.

A vida segue seu curso no cortiço e pombinha não se sente nada bem no dia
posterior ao jantar em que fora com sua mãe na casa de Léonie. A cocote havia
instigado à moça na noite anterior e abusado dela sexualmente.

Após ter sido apresentada ao sexo de maneira tão vil, Pombinha sente uma
extrema necessidade de ficar sozinha e sai para um passeio. Quando retorna ao
cortiço, chega trazendo uma notícia muito esperada por sua mãe, Pombinha estava
menstruada. Isso foi motivo de grande comemoração entre as lavadeiras do
cortiço, pois todas sabiam que agora ela poderia se casar com o Costa.

Estando em meio aos preparativos para seu casamento, Pombinha é
encarregada por Bruno à escrever uma carta para Leocádia, pedindo para que esta
volte a viver com ele. Este fato faz Pombinha perceber-se mulher, passa a
achar-se mais poderosa que os homens, ao ver esta atitude de Bruno, pois mesmo depois
de traído e humilhado, ele humilha-se ainda mais agora ao pedir que a esposa
volte para casa.

Logo Pombinha se casou e foi morar em outro lugar, juntamente com sua
mãe.

Na mesma rua do cortiço São Romão, começou a surgir um outro cortiço, com
o nome de “Cabeça-de-Gato”, cujo dono também era um português. João Romão não
gostou da concorrência e passou a instigar os moradores de seu cortiço, contra
os moradores do cortiço vizinho.

Logo uma espécie de “guerra fria” surgiu entre as estalagens e João nomeia
o seu cortiço de “Carapicus”.

Firmo instala-se no cortiço Cabeça-de-Gato, por conta desta rivalidade
entre as estalagens os seus encontros com Rita ficam cada vez mais difíceis.

Neste período João Romão já havia mudado bastante, desde que Miranda
tornara-se barão, o vendeiro passou a se arrumar e se matriculou em um clube de
dança, comprou um relógio e passou a freqüentar o Teatro e o Passeio
Público.Quase não ficava na venda e quando lá estava não atendia o público,
contratara mais caixeiros para fazerem seu serviço.Miranda o tratava agora de
outro modo, e o convidou para a festa de aniversário de Dona Estela, mas João
recusa educadamente o convite.

Bertoleza continuava levando a mesma vida de trabalho diário, e começou a
ficar triste.

O velho Botelho, hóspede de Miranda, passou a conversar amigavelmente com
João e certo dia lhe sugere que se casasse com Zulmira, sugestão esta que é
aceita imediatamente por ele, pois vê na moça um passaporte para futuramente
ter um título social, assim como o vizinho.

João e Botelho passam, então a planejar como farão para que ele se
aproxime da moça e de seus pais a fim de concretizar seus planos de casar-se
com ela. Para isto João pagava a Botelho para que este o auxiliasse.

A sociedade entre eles deu certo e em poucos dias João Romão, jantava na
casa de Miranda e conhecia toda a família.

O jantar foi especialmente difícil para João, pois ele não estava
acostumado a requintes e etiquetas, no entanto seus planos estavam dando certo.

A partir deste dia João passou a ponderar sobre o que iria fazer com
Bertoleza, já que seu maior objetivo agora era casar-se com Zulmira.

Passaram-se dias e os encontros entre Rita e Firmo, já não eram os
mesmos, ela já não era a mesma, estava apaixonada por Jerônimo.

Sem repousar de sua alta do hospital, Jerônimo combina com Zé Carlos e
Pataca, moradores do cortiço, e os três criam um plano para matar Firmo.

A realização do plano não demora, e dias depois os três se encontram em
um bar na beira do mar chamado Garnisé, onde viram Florinda trabalhando depois
de ter abortado espontaneamente a sua gravidez, e deram-lhe a notícia de que
sua mãe estava num hospício.

Jerônimo, Zé Carlos e Pataca, matam Firmo e o jogam ao mar.

Piedade passa a noite toda preocupada com Jerônimo e no dia seguinte
todos no cortiço percebem o sumiço de Jerônimo e ficam sabendo da morte de
Firmo.

Jerônimo volta à estalagem e se esconde na casa de Rita, onde os dois se
entregam a paixão e planejam mudarem-se juntos. Logo ele aluga uma casa fora
dali, e Rita começa arrumar suas coisa para acompanhá-lo.

Piedade suspeita dos planos da baiana e ao questioná-la sobre isso,
inicia-se uma violenta briga entre elas.Em pouco tempo vários moradores do
cortiço estavam envolvidos na briga, os portugueses defendia Piedade e os
brasileiros defendiam Rita.

A briga ficava cada vez mais violenta.

Neste momento aproxima-se do cortiço vários moradores do cortiço Cabeça -
de –Gato, munidos de navalhas e paus em busca de vingar a morte de Firmo, pois
ele havia se tornado influente no cortiço vizinho.

A atenção foi desviada da primeira briga e os moradores foram até suas
casas armar-se para a guerra eminente.

Inicia-se uma guerra violenta, navalhadas, pauladas, chutes, socos. A
confusão só cessou quando todos perceberam a fumaça que tomava o fundo do cortiço.A
Bruxa havia incendiado a casa número oitenta e oito, e as labaredas se
espalhavam rapidamente.

Começaram a jogar baldes de água nas chamas, e houve grande correria na
expectativa dos moradores de tentarem salvar, todos os quais seus bens, antes
que o fogo invadisse todas as casas.

A Bruxa acabou morrendo na mesma casa em que inicio o incêndio.

Os bombeiros chegaram e conseguiram abafar o incêndio, mas o fogo já
havia feito muitos estragos e causado algumas mortes.

A Bruxa acabou morrendo na mesma casa em que iniciou o incêndio.

O velho Libório foi uma das vitimas do fogo, mas não sem antes ser vítima
da ganância desmedida de João Romão, pois este ao ver o velho correr
desesperado para sua casinha no momento do incêndio, o segue e descobre que
Libório guardava dinheiro em garrafas, que o velho tentou defender com a
própria vida, mas João tomou-lhe as garrafas das mãos, e as chamas implacáveis
do incêndio fazem de Libório uma vítima fatal.

No dia posterior ao incêndio a polícia recolhe os cadáveres do cortiço. E
o cortiço podia contar os prejuízos da confusão e do incêndio.

Rita havia desaparecido do cortiço durante a confusão; Piedade ficou
doente; a Machona foi ferida; das Dores também se feriu no incêndio; o Bruno
levou uma navalhada; dois trabalhadores da pedreira estavam muito feridos, e
uma das filhinhas de Augusta Carne-Mole, morreu esmagada pelo povo durante a
confusão. O enterro da menina foi pago por Léonie.

Naquela noite, depois de assegurar-se que Bertoleza dormia, João Romão
abre as garrafas que roubou de Libório para contar o dinheiro, percebe que
várias notas ali guardadas já não valiam mais nada e chateia-se com isto,
sente-se prejudicado.

Dali a poucos dias toda a estalagem estava em obras para reconstruir o
que foi perdido no incêndio e em poucos meses João Romão colocou tudo em ordem
e começou a reformar a venda, prometendo construir um sobrado maior e melhor
que o de Miranda.

O barão e Botelho estavam muito entusiasmados com a prosperidade do
vizinho.

João Romão não parava mais na venda. Andava bem vestido, e freqüentava
diversos ambientes sociais do Rio de Janeiro.

Todo o domingo João jantava na casa de Miranda, e a única questão que o
preocupava era o que iria fazer com Bertoleza, já que nem mesmo o incêndio no
cortiço tirou o seu sono, pois depois do primeiro incêndio, ele havia feito um
seguro e acabou tendo lucros com a tragédia.

Bertoleza via as mudanças do amigo e não reclamava seus direitos de
amante e concubina, pois ela sempre havia tido a si mesma como um animal de
trabalho, por isto o fato do amigo estar querendo casar-se com uma moça da
sociedade não soava tão estranho para ela. Entretanto, ela adorava João Romão,
tinha por ele profunda admiração e respeito, e se sentia feliz quando este lhe
dedicava alguma atenção, por isto não podia aceitar o fato de que o amigo já
não a tratava como antes. Isto fez com que Bertoleza entrasse numa enorme
apatia e tristeza profunda, mas mesmo assim ela continuava trabalhando
arduamente dia após dia.

Jerônimo empregara-se em outra pedreira e morava agora com a Rita Baiana
em outra estalagem. O português vivia feliz com a mulata.

Piedade habituara-se a beber, e passou a receber visitas de sua filha de
nove anos aos domingos no cortiço.

A “lua de mel” de Jerônimo e Rita durou pouco e este logo se arrependeu
de ter deixado a mulher e filha, e passou a beber também, embora estivesse
resolvido a não voltar a viver com Piedade.

O cortiço já não parecia o mesmo, estava calçado, iluminado e arrumado. E
ganhava nome de Avenida São Romão e o sobrado do vendeiro estava ficando
pronto, ele providenciava móveis para a casa nova, todos de casal.

Os moradores continuavam suas vidas:

Piedade quase foi violentada por Pataca depois de beber muito em uma
festa na casa da das Dores.

Agostinho, filho pequeno de Augusta sofre um acidente enquanto brincava
com outros garotos na pedreira e morre.

João Romão se comoveu com a morte do pequeno, mas não pode deixar de
imaginar que poderia ter sido Bertoleza ao invés do garoto.

Num outro dia, João e Botelho discutiam na venda sobre seu casamento com
Zulmira, quando são surpreendidos por Bertoleza. Ela deixa bem claro que não
aceitará ser despachada de casa, e pede ao vendeiro que espere pela sua morte
para concretizar seus planos de casamento com Zulmira.

Os dois discutem e nada conseguem resolver, então João tem a idéia de
mandá-la de volta para o seu primitivo dono e incumbe Botelho de encontrar o
novo dono da escrava, já que o velho cego de quem João Romão a tirou já havia
morrido e ela pertencia agora aos herdeiros dele.

O armazém prosperava a cada dia e a “Avenida São Romão”, agora era
freqüentada por gente de porte mais fino como alfaiates, operários e artistas.
O cortiço estava aristocratizando-se.

Florinda volta a viver no cortiço, com um despachante da estrada de
ferro, depois que sua mãe morre no hospício.

A machona consegue um pretendente para se casar com Neném.

Alexandre é promovido a sargento.

Pombinha, depois de dois anos casada, não suporta mais o marido e passa a
o trair com outros homens no que é descoberta por ele que a abandona. Dona
Isabel tenta persuadi-lo a voltar, em vão.

Pombinha desaparece por semanas, e Dona Isabel fica sabendo que ela está
morando com Léonie num hotel no centro da cidade.Dona Isabel morre de desgosto
em uma casa de saúde tempos depois de presenciar a vida desregrada que a filha
estava levando, ao lado da cocote.

Piedade já não dava conta de seu trabalho, bebia demais, e vivia da ajuda
de Pombinha que se encantara por “Senhorinha”, a filha dela que passou a viver
definitivamente com a mãe, depois que o pai não pagou mais o internato onde
estudava. A menina já dava sinais de que seria a mais nova prostituta do lugar,
pois crescia sem o amparo da mãe extremamente perturbada, e sem o olhar do pai
que morava longe. Logo Piedade foi despejada e passou a morar no
Cabeça-de-Gato.

O cortiço vizinho tornou-se refúgio certo para todos os moradores que por
um motivo ou outro não podiam mais viver na estalagem de João Romão.

João Romão encontra-se dias depois com a família Miranda em uma
confeitaria na Rua do Ouvidor, onde conversaram amigavelmente sobre os
preparativos para o casamento.

Depois do encontro João Romão e Botelho ficaram conversando sobre o fim
que se daria a Bertoleza, Botelho informa o outro que o dono da escrava iria
buscá-la no mesmo dia, e que João deveria estar em casa para entregá-la.

Mais tarde o dono de Bertoleza apareceu no armazém para buscá-la, ela
estava na cozinha, de cócoras , quando reconhece na porta o filho mais velho de
seu dono acompanhado pela polícia, imediatamente, ela entende tudo o que fez
João Romão, que não tendo coragem para matá-la resolveu entregá-la a seu antigo
dono. Seu primeiro impulso é fugir, mas vendo-se encurralada Bertoleza
desespera-se e em um único golpe firme e certeiro rasga seu próprio ventre com a
mesma faca que limpava peixes minutos antes.

João Romão assisti a tudo.Nesse momento uma carruagem para na porta do
armazém trazendo uma comissão de abolicionistas que vinham entregá-lo um título
de sócio benemérito.Ele os conduz a sala de visitas.

 

 

 

 

 

 

 

 

2.2 Enredo - Elementos do enredo

 

 

 

Segundo a escritora Angélica Soares, na obra Gêneros Literários: “enredo
é o resultado das ações das personagens e só existe através do discurso
narrativo, do modo como se organizam os acontecimentos”.

Na obra O cortiço, identificamos um romance aberto, pois não há
limitações de “começo, meio e fim”, ou seja, temos a impressão que o autor
poderia ter acrescentado outros capítulos à história, e quando se finaliza a
leitura, o leitor pode deduzir ou tentar adivinhar o destino de alguns
personagens já que não se define literalmente um fim para a trama narrativa.

Verifica-se um narratário extradiegético, já que não é identificado na
narrativa, apenas deduzido da voz do narrador. Em nenhum momento o narrador se
reporta ao narratário.

O enredo é conduzido de forma tão realística que a impressão que o leitor
pode ter, em algumas cenas, é a de estar “vendo” as ações dos personagens.

 

 

 

2.3 Enredo - Partes do enredo

 

 

 

Segue alguns trechos do enredo que consideramos significantes para a
narrativa:

Trecho do capítulo I, em que o narrador conta como João Romão enganou a
escrava Bertoleza, dizendo-lhe que tinha comprado sua carta de alforria.

 Verifica-se, neste trecho como é a
visão de Bertoleza com relação ao amigo , quando o julga superior a ela apenas
por ele ser português, um remetente à situação social daquela época (século
XIX) e uma visão baseada na teoria darwinista na qual se baseiam as obras
naturalistas:

(...) E por tal forma foi o taverneiro ganhando confiança no espírito da
mulher, que esta afinal nada mais resolvia só por si, e aceitava dele,
cegamente, todo e qualquer arbítrio. Por último, se alguém precisava tratar com
ela qualquer negócio, nem mais se dava ao trabalho de procurá-la, ia logo
direito a João Romão. Quando deram fé estavam amigados.

Ele propôs lhe morarem juntos e ela concordou de braços abertos, feliz em
meter-se de novo com um português, porque, como toda a cafuza, Bertoleza não
queria sujeitar se a negros e procurava instintivamente o homem numa raça superior
à sua.

João Romão comprou então, com as economias da amiga, alguns palmos de
terreno ao lado esquerdo da venda, e levantou uma casinha de duas portas,
dividida ao meio paralelamente à rua, sendo a parte da frente destinada à
quitanda e a do fundo para um dormitório que se arranjou com os cacarecos de
Bertoleza. Havia, além da cama, uma cômoda de jacarandá muito velha com
maçanetas de metal amarelas já mareadas, um oratório cheio de santos e forrado
de papel de cor, um baú grande de couro cru tacheado, dois banquinhos de pau
feitos de uma só peça e um formidável cabide de pregar na parede, com a sua
competente coberta de retalhos de chita. O vendeiro nunca tivera tanta mobília.

—      Agora, disse ele à crioula,
as coisas vão correr melhores para você. Você vai ficar forra; eu entro com o
que falta.

Nesse dia ele saiu muito à rua, e uma semana depois apareceu com uma
folha de papel toda escrita, que leu em voz alta à companheira.

—      Você agora não tem mais
senhor! Declarou em seguida à leitura, que ela ouviu entre lágrimas
agradecidas. Agora está livre. Doravante o que você fizer é só seu e mais de
seus filhos, se os tiver. Acabou se o cativeiro de pagar os vinte mil réis à
peste do cego!

—      Coitado! A gente se queixa é
da sorte! Ele, como meu senhor, exigia o jornal, exigia o que era seu!

—      Seu ou não seu, acabou se! E
vida nova!

Contra todo o costume, abriu se nesse dia uma garrafa de vinho do Porto,
e os dois beberam na em honra ao grande acontecimento. Entretanto, a tal carta
de liberdade era obra do próprio João Romão, e nem mesmo o selo, que ele
entendeu de pespegar lhe em cima, para dar à burla maior formalidade,
representava despesa porque o esperto aproveitara uma estampilha já servida. O
senhor de Bertoleza não teve sequer conhecimento do fato; o que lhe constou,
sim, foi que a sua escrava lhe havia fugido para a Bahia depois da morte do
amigo (...).

Trecho do capítulo III, em que  o 
narrador conta o amanhecer no cortiço.

Verifica-se neste trecho a personificação do cortiço feita por Aluísio
Azevedo, além de citações de como era o cotidiano da vida das personagens:

Eram cinco horas da manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos,
mas a sua infinidade de portas e janelas alinhadas.

Um acordar alegre e farto de quem dormiu de uma assentada sete horas de
chumbo. Como que se sentiam ainda na indolência de neblina as derradeiras notas
da ultima guitarra da noite antecedente, dissolvendo se à luz loura e tenra da
aurora, que nem um suspiro de saudade perdido em terra alheia.

A roupa lavada, que ficara de véspera nos coradouros, umedecia o ar e
punha lhe um farto acre de sabão ordinário. As pedras do chão, esbranquiçadas
no lugar da lavagem e em alguns pontos azuladas pelo anil, mostravam uma
palidez grisalha e triste, feita de acumulações de espumas secas.

Entretanto, das portas surgiam cabeças congestionadas de sono; ouviam se
amplos bocejos, fortes como o marulhar das ondas; pigarreava se grosso por toda
a parte; começavam as xícaras a tilintar; o cheiro quente do café aquecia,
suplantando todos os outros; trocavam se de janela para janela às primeiras
palavras, os bons dias; reatavam se conversas interrompidas à noite; a
pequenada cá fora traquinava já, e lá dentro das casas vinham choros abafados
de crianças que ainda não andam. No confuso rumor que se formava, destacavam se
risos, sons de vozes que altercavam, sem se saber onde, grasnar de marrecos,
cantarem de galos, cacarejar de galinhas. De alguns quartos saiam mulheres que
vinham pendurar cá fora, na parede, a gaiola do papagaio, e os louros, à
semelhança dos donos, cumprimentavam se ruidosamente, espanejando se à luz nova
do dia.

Daí a pouco, em volta das bicas era um zunzum crescente; uma aglomeração
tumultuosa de machos e fêmeas. Uns, após outros, lavavam a cara, incomodamente,
debaixo do fio de água que escorria da altura de uns cinco palmos. O chão
inundava se. As mulheres precisavam já prender as saias entre as coxas para não
as molhar; via se lhes a tostada nudez dos braços e do pescoço, que elas
despiam, suspendendo o cabelo todo para o alto do casco; os homens, esses não
se preocupavam em não molhar o pêlo, ao contrário metiam a cabeça bem debaixo
da água e esfregavam com força as ventas e as barbas, fossando e fungando
contra as palmas da mão. As portas das latrinas não descansavam, era um abrir e
fechar de cada instante, um entrar e sair sem tréguas. Não se demoravam lá
dentro e vinham ainda amarrando as calças ou as saias; as crianças não se davam
ao trabalho de lá ir, despachavam se ali mesmo, no capinzal dos fundos, por detrás
da estalagem ou no recanto das hortas.

O rumor crescia, condensando se; o zunzum de todos os dias acentuava se;
já se não destacavam vozes dispersas, mas um só ruído compacto que enchia todo
o cortiço. Começavam a fazer compras na venda; ensarilhavam se discussões e
resingas; ouviam se gargalhadas e pragas; já se não falava, gritava se. Sentia
se naquela fermentação sangüínea, naquela gula viçosa de plantas rasteiras que
mergulham os pés vigorosos na lama preta e nutriente da vida, o prazer animal
de existir, a triunfante satisfação de respirar sobre a terra(...).

Trecho do capítulo IV, em que o narrador conta como João Romão levou o
português Jerônimo para conhecer a sua pedreira.

Verifica-se neste trecho riqueza de detalhes em que são narrados os caminhos
percorridos por João Romão e Jerônimo, além de aspectos relevantes do ambiente
da história, como a descrição da pedreira:

(...)E os dois, em vez de procurarem à estrada, atravessaram o capim
quente e escaldante.

Meio dia em ponto. O
sol estava a pino; tudo reverberava a luz irreconciliável de dezembro, num dia
sem nuvens. A pedreira, em que ela batia de chapa em cima, cegava olhada de
frente. Era preciso martirizar a vista para descobrir as nuanças da pedra; nada
mais que uma grande mancha branca e luminosa, terminando pela parte de baixo no
chão coberto de cascalho miúdo, que ao longe produzia o efeito de um betume
cinzento, e pela parte de cima na espessura compacta do arvoredo, onde se não
distinguiam outros tons mais do que nódoas negras, bem negras, sobre o verde
escuro.

À proporção que os dois se aproximavam da imponente pedreira, o terreno
ia se tornando mais e mais cascalhudo; os sapatos enfarinhavam se de uma poeira
clara. Mais adiante, por aqui e por ali, havia muitas carroças, algumas em movimento,
puxadas a burro e cheias de calhaus partidos; outras já prontas para seguir, à
espera do animal, e outras enfim com os braços para o ar, como se acabassem de
ser despejadas naquele instante. Homens labutavam.

À esquerda, por cima de um vestígio de rio, que parecia ter sido bebido
de um trago por aquele sol sedento, havia uma ponte de tábuas, onde três
pequenos, quase nus, conversavam assentados, sem fazer sombra, iluminados a
prumo pelo sol do meio dia. Para adiante, na mesma direção, corria um vasto
telheiro, velho e sujo, firmado sobre colunas de pedra tosca; ai muitos
portugueses trabalhavam de canteiro, ao barulho metálico do picão que feria o
granito. Logo em seguida, surgia uma oficina de ferreiro, toda atravancada de
destroços e objetos quebrados, entre os quais avultavam rodas de carro; em
volta da bigorna dois homens, de corpo nu, banhados de suor e alumiados de
vermelho como dois diabos, martelavam cadenciosamente sobre um pedaço de ferro
em brasa; e ali mesmo, perto deles, a forja escancarava uma goela infernal, de
onde saiam pequenas línguas de fogo, irrequietas e gulosas.

Trecho do capítulo VI, em que o narrador conta o retorno da mulata Rita
Baiana ao cortiço. Verifica-se neste trecho a importância da personagem ao
contexto do enredo, já que esta é figura marcante no cortiço. Rita, descrita
nos mínimos detalhes por Aluísio Azevedo, representa a mulher brasileira:

(...) Dentro da taverna, os martelos de vinho branco, os copos de cerveja
nacional e os dois vinténs de parati ou laranjinha sucediam se por cima do
balcão, passando das mãos do Domingos e do Manuel para as mãos ávidas dos
operários e dos trabalhadores, que os recebiam com estrondosas exclamações de
pândega. A Isaura, que fora num pulo tomar o seu primeiro capilé, via se tonta
com os apalpões que lhe davam. Leonor não tinha um instante de sossego,
saltando de um lado para outro, com uma agilidade de mono, a fugir dos punhos
calosos dos cavouqueiros que, entre risadas, tentavam agarrá-la; e insistia na
sua ameaça do costume: “que se queixava ao juiz de orfe”, mas não se ia embora,
porque defronte da venda viera estacionar um homem que tocava cinco
instrumentos ao mesmo tempo, com um acompanhamento desafinado de bombo, pratos
e guizos.

Era apenas oito horas e já muita gente comia e palavreava na casa de
pasto ao lado da venda. João Romão, de roupa mudada como os outros, mas sempre
em mangas de camisa, aparecia de espaço em espaço, servindo os comensais; e a
Bertoleza, sempre suja e tisnada, sempre sem domingo nem dia santo, lá estava ao
fogão, mexendo as panelas e enchendo os pratos.

Um acontecimento, porém, veio revolucionar alegremente toda aquela
confederação da estalagem. Foi a chegada da Rita Baiana, que voltava depois de
uma ausência de meses, durante a qual só dera noticias suas nas ocasiões de
pagar o aluguei do cômodo.

Vinha acompanhada por um moleque, que trazia na cabeça um enorme samburá
carregado de compras feitas no mercado; um grande peixe espiava por entre
folhas de alface com o seu olhar embaciado e triste, contrastando com as
risonhas cores dos rabanetes, das cenouras e das talhadas de abóbora
vermelha...

...Cercavam-na homens, mulheres e crianças; todos queriam novas dela. Não
vinha em traje de domingo; trazia casaquinho branco, uma saia que lhe deixava
ver o pé sem meia num chinelo de polimento com enfeites de marroquim de
diversas cores. No seu farto cabelo, crespo e reluzente, puxado sobre a nuca,
havia um molho de manjericão e um pedaço de baunilha espetado por um gancho. E
toda ela respirava o asseio das brasileiras e um odor sensual de trevos e
plantas aromáticas. Irrequieta, saracoteando o atrevido e rijo quadril baiano,
respondia para a direita e para a esquerda, pondo à mostra um fio de dentes
claros e brilhantes que enriqueciam a sua fisionomia com um realce fascinador.

Acudiu quase todo o cortiço para recebê-la. Choveram abraços e as chufas
do bom acolhimento.

Por onde andara aquele diabo, que não aparecia para mais de três meses?(...)

 

Trecho do capítulo X, em que o narrador conta os preparativos para a
festa do Miranda, vizinho do cortiço, que fora agraciado pelo governo português
com o título de Barão de Freixal.

Neste trecho verifica-se a figura de Miranda representando o português
bem sucedido, que alcançou além de riqueza, um título social no Brasil.

(...) No outro dia a casa do Miranda estava em preparos de festa. Lia se
no “Jornal do Comércio” que Sua Excelência fora agraciada pelo governo
português com o titulo de Barão do Freixal; e como os seus amigos se achassem
prevenidos para ir cumprimentá-lo no domingo, o negociante dispunha se a
recebê-los condignamente.

Do cortiço, onde esta novidade causou sensação, via se nas janelas do
sobrado, abertas de par em par, surgir de vez em quando Leonor ou
Isaura, a sacudirem tapetes e capachos, batendo lhes em cima com um pau, os
olhos fechados, a cabeça torcida para dentro por causa da poeira que a cada
pancada se levantava como fumaça de um tiro de peça. Chamaram se novos criados
para aqueles dias. No salão da frente, pretos lavavam o soalho, e na cozinha
havia rebuliço. Dona Estela, de penteador de cambraia enfeitado de laços cor de
rosa, era lobrigada de relance, ora de um lado, ora de outro, a dar as suas
ordens, abanando se com um grande leque; ou aparecia no patamar da escada do
fundo, preocupada em soerguer as saias contra as águas sujas da lavagem, que
escorriam para o quintal. Zulmira também ia e vinha com a sua palidez fria e
úmida de menina sem sangue. Henrique, de paletó branco, ajudava o Botelho nos
arranjos da casa e, de instante a instante, chegava à janela, para namoriscar
Pombinha, que fingia não dar por isso, toda embebida na sua costura, à porta do
número 15, numa cadeira de vime, uma perna dobrada sobre a outra, mostrando a
meia de seda azul e um sapatinho preto de entrada baixa; só de longo em longo espaço,
ela desviava os olhos do serviço e erguia os para o sobrado. Entretanto, a
figura gorda e encanecida do novo Barão, sobre casacado, com o chapéu alto
derreado para trás na cabeça e sem largar o guarda chuva, entrava da rua e
atravessava a sala de jantar, seguia até a despensa, diligente esbaforido,
indagando se já tinha vindo isto e mais aquilo, provando dos vinhos que
chegavam em garrafões, examinando tudo, voltando se para a direita e para a
esquerda, dando ordens, ralhando, exigindo atividade, e depois tornava a sair,
sempre apressado, e metia se no carro que o esperava à porta da rua.

— Toca! Toca! Vamos ver se o fogueteiro aprontou os fogos!

E viam se chegar, quase sem intermitência, homens carregados de gigos de
champanha, caixas de Porto e Bordéus, barricas de cerveja, cestos e cestos de
mantimentos, latas e latas de conserva; e outros traziam perus e leitões,
canastras d’ovos, quartos de carneiro e de porco. E as janelas do sobrado iam
se enchendo de compoteiras de doce ainda quente, saído do fogo, e travessões,
de barro e de ferro, com grandes peças de carne em vinha d’alhos, prontos para
entrar no forno. À porta da cozinha penduraram pelo pescoço um cabrito
esfolado, que tinha as pernas abertas, lembrando sinistramente uma criança a
quem enforcasse depois de tirar lhe a pele (...)

 

Trecho do capítulo XIII, em que o narrador conta sobre o aparecimento de
outro cortiço na mesma rua a fazer concorrência ao cortiço de João Romão. Este
trecho demonstra como João Romão é capaz de influenciar os moradores de sua
estalagem e estes passam a odiarem os moradores do cortiço vizinho.

(...) Agora, na mesma rua, germinava outro cortiço ali perto, o “Cabeça
de Gato”. Figurava como seu dono um português que também tinha venda, mas o
legitimo proprietário era um abastado conselheiro, homem de gravata lavada, a
quem não convinha, por decoro social, aparecer em semelhante gênero de
especulações. E João Romão, estalando de raiva, viu que aquela nova república
da miséria prometia ir adiante e ameaçava fazer lhe à sua, perigosa
concorrência. Pôs se logo em campo, disposto à luta, e começou a perseguir o
rival por todos os modos, peitando fiscais e guardas municipais, para que o não
deixasse respirar um instante com multas e exigências vexatórias; enquanto pela
sorrelfa plantava no espírito dos seus inquilinos um verdadeiro ódio de
partido, que os incompatibilizava com a gente do “Cabeça de Gato”. Aquele que
não estivesse disposto a isso ia direitinho para a rua, “que ali se não
admitiam meias medidas a tal respeito! Ali: ou bem peixe ou bem carne! Nada de
embrulho!” É inútil dizer que a parte contrária lançou mão igualmente de todos
os meios para guerrear o inimigo, não tardando que entre os moradores da duas
estalagens rebentasse uma tremenda rivalidade, dia a dia agravada por pequenas
brigas e rezingas, em que as lavadeiras se destacavam sempre com questões de
freguesia de roupa. No fim de pouco tempo os dois partidos estavam já
perfeitamente determinados; os habitantes do “Cabeça de Gato” tomaram por
alcunha o titulo do seu cortiço, e os de “São Romão”, tirando o nome do peixe
que a Bertoleza mais vendia à porta da taverna, foram batizados por
“Carapicus”.

 

Quem se desse com um Carapicus não podia entreter a mais ligeira amizade
com um Cabeça de gato; mudar se alguém de uma estalagem para outra era renegar
idéias e princípios e ficava apontado a dedo; denunciar a um contrário o que se
passava, fosse o que fosse, dentro do circulo oposto, era cometer traição
tamanha, que os companheiros a puniam a pau. Um vendedor de peixe, que caiu na
asneira de falar a um cabeça de gato a respeito de uma briga entre a Machona e
sua filha, a das Dores, foi encontrado quase morto perto do cemitério de São
João Batista. Alexandre, esse então não cochilava com os adversários: nas suas
partes policiais figurava sempre o nome de um deles pelo menos, mas entre os
próprios polícias havia adeptos de um e de outro partido; o urbano que entrava
na venda do João Romão tinha escrúpulo de tomar qualquer coisa ao balcão da
outra venda. Em meio do pátio do “Cabeça de Gato” arvorara se uma bandeira
amarela; os Carapicus responderam logo levantando um pavilhão vermelho. E as
duas cores olhavam se no ar como um desafio de guerra (...).

            Outro trecho do capítulo
XIII, em que o narrador conta o início da mudança de hábitos de João Romão e o
início do seu desprezo pela negra Bertoleza. Verifica-se que em nenhum momento
no trecho abaixo, ou em toda a narrativa, João Romão tivesse gratidão pela
ajuda que Bertoleza lhe dera para alcançar sua riqueza, ou sentimento de
remorso por tê-la enganado para ficar com suas economias, ou ainda culpa, por
desejar a sua morte. O trecho demonstra que para João Romão, Bertoleza
tornara-se, simplesmente, um “problema” que ele tinha que resolver.

(...) Depois do jantar apareceu uma família; conhecida, trazendo um
rancho de moças; vieram também alguns rapazes; formaram se jogos de prendas, e
João Romão, pela primeira vez em sua vida, viu se metido em tais funduras. Não
se saiu mal, todavia.

O chá das dez e meia correu sem novidade; e, quando enfim o neófito se
pilhou na rua, respirou com independência, remexendo o pescoço dentro do
colarinho engomado e soprando com alívio. Uma alegria de vitória transbordava
lhe do coração e fazia o feliz nesse momento. Bebeu o ar fresco da noite com
uma volúpia nova para ele e, muito satisfeito consigo mesmo, entrou em casa e
recolheu se, rejubilando com a idéia de que ia descalçar aquelas botas,
desfazer se de toda aquela roupa e atirar se à cama, para pensar mais à vontade
no seu futuro, cujos horizontes se rasgavam agora iluminados de esperança.

Mas a bolha do seu desvanecimento engelhou logo à vista de Bertoleza que,
estendida na cama, roncava, de papo para o ar, com a boca aberta, a camisa
soerguida sobre o ventre, deixando ver o negrume das pernas gordas e lustrosas.

E tinha de estirar se ali, ao lado daquela preta fedorenta a cozinha e
bodum de peixe! Pois, tão cheiroso e radiante como se sentia, havia de pôr a
cabeça naquele mesmo travesseiro sujo em que se enterrava a hedionda carapinha
da crioula?...

— Ai! Ai! Gemeu o vendeiro, resignando se. E despiu se.

Uma vez deitado, sem animo de afastar se da beira da cama, para não se
encostar com a amiga, surgiu lhe nítida ao espírito a compreensão do estorvo
que o diabo daquela negra seria para o seu casamento.

E ele que até aí não pensara nisso!... Ora o demo!

Não pôde dormir; pôs se a malucar:

Ainda bem que não tinham filhos! Abençoadas drogas que a Bruxa dera à
Bertoleza nas duas vezes em que esta se sentiu grávida! Mas, afinal, de que
modo se veria livre daquele trambolho? E não se ter lembrado disso há mais
tempo!... Parecia incrível!

João Romão, com efeito, tão ligado vivera com a crioula e tanto se
habituara a vê-la ao seu lado, que nos seus devaneios de ambição pensou em
tudo, menos nela.

E agora?

E malucou no caso até às duas da madrugada, sem achar furo. Só no dia
seguinte, a contemplá-la de cócoras à porta da venda, abrindo e destripando
peixe, foi que, por associação de idéias, lhe acudiu esta hipótese:

— E se ela morresse?...

            Trecho do capítulo XIX,
em que o narrador conta como Bertoleza percebeu o esforço de João Romão para
ascender socialmente. Neste trecho verifica-se a posição que Bertoleza
coloca-se com relação a João Romão, o modo como ela conduz a situação do
casamento de João com Zulmira, sem exigir nada para si, apenas pedido ao amigo
que espere a sua morte para concretizar seus planos, aceitando-se como inferior
e incapaz de ser digna do amor de João Romão, simplesmente por ser negra. A
escrava representa no enredo, e principalmente neste trecho, a figura do negro
e a consciência social da época em que romance naturalista foi escrito, pois a
consciência de ser minoritário que Bertoleza tinha de si mesma é reflexo da
sociedade em que vivia. 

 

 

 

 

 

(...) Agora, não se passava um domingo sem que o amigo de Bertoleza fosse
jantar à casa do Miranda. Iam juntos ao teatro. João Romão dava o braço à
Zulmira, e, procurando galanteá-la e mais ao resto da família, desfazia se em
obséquios brutais e dispendiosos, com uma franqueza exagerada que não olhava
gastos. Se tinham de tomar alguma coisa, ele fazia vir logo três, quatro
garrafas ao mesmo tempo, pedindo sempre o triplo do necessário e acumulando
compras inúteis de doces, flores e tudo o que aparecia. Nos leilões das festas
de arraial era tão feroz a sua febre de obsequiar a gente do Miranda, que nunca
voltava para casa sem um homem atrás, carregado com os mimos que o vendeiro
arrematava.

E Bertoleza bem que compreendia tudo isso e bem que estranhava a
transformação do amigo. Ele ultimamente mal se chegava para ela e, quando o
fazia, era com tal repugnância, que antes não o fizesse. A desgraçada muita vez
sentia lhe cheiro de outras mulheres, perfumes de cocotes estrangeiras e
chorava em segredo, sem animo de reclamar os seus direitos. Na sua obscura
condição de animal de trabalho, já não era amor o que a mísera desejava, era
somente confiança no amparo da sua velhice quando de todo lhe faltassem as
forças para ganhar a vida. E contentava se em suspirar no meio de grandes
silêncios durante o serviço de todo o dia, covarde e resignada, como seus pais
que a deixaram nascer e crescer no cativeiro. Escondia se de todos, mesmo da
gentalha do frege e da estalagem, envergonhada de si própria, amaldiçoando se
por ser quem era triste de sentir se a mancha negra, a indecorosa nódoa daquela
prosperidade brilhante e clara.

E, no entanto, adorava o amigo, tinha por ele o fanatismo irracional das
caboclas do Amazonas pelo branco a que se escravizam, dessas que morrem de
ciúmes, mas que também são capazes de matar se para poupar ao seu ídolo a
vergonha do seu amor. O que custava aquele homem consentir que ela, uma vez por
outra, se chegasse para junto dele? Todo o dono, nos momentos de bom humor,
afaga o seu cão... Mas qual!

O destino de Bertoleza fazia se cada vez mais estrito e mais sombrio;
pouco a pouco deixara totalmente de ser a amante do vendeiro, para ficar sendo
só uma sua escrava. Como sempre, era a primeira a erguer se e a ultima a deitar
se; de manhã escamando peixe, à noite vendendo o à porta, para descansar da
trabalheira grossa das horas de sol; sempre sem domingo nem dia santo, sem
tempo para cuidar de si, feia, gasta, imunda, repugnante, com o coração
eternamente emprenhado de desgostos que nunca vinham à luz. Afinal, convencendo
se de que ela, sem ter ainda morrido, já não vivia para ninguém, nem tampouco
para si, desabou num fundo entorpecimento apático, estagnado como um charco
podre que causa nojo.

 Fizera se áspera, desconfiada,
sobrolho carrancudo, uma linha dura de um canto ao outro da boca. E durante
dias inteiros, sem interromper o serviço, que ela fazia agora automaticamente,
por um hábito de muitos anos, gesticulava e mexia com os lábios, monologando
sem pronunciar as palavras. Parecia indiferente a tudo, a tudo que a cercava (...).

            Trecho final do capítulo
XXIII , onde o narrador conta  como
Bertoleza descobriu que fora enganada por João Romão, finalizando o enredo.
Neste último trecho da obra, pode-se verificar no desfecho da história, o drama
do suicídio de Bertoleza, quando ela rasga o próprio ventre com a mesma faca
que limpava peixes para alimentar João Romão, exatamente da mesma forma como
ele havia imaginado a morte da escrava como solução para poder se casar com a
filha de Miranda.

Bertoleza mata-se para não tornar-se escrava novamente, entretanto, ela
jamais percebeu que nunca deixou de ser, este fato e a chegada da comissão de
abolicionistas para homenagear João Romão exatamente neste momento, demonstra
de forma irônica, o que estava acontecendo na sociedade brasileira naquela época:

(...) Atravessaram o armazém, depois um pequeno corredor que dava para um
pátio calçado, chegaram finalmente à cozinha. Bertoleza, que havia já feito
subir o jantar dos caixeiros, estava de cócoras, no chão, escamando peixe, para
a ceia do seu homem, quando viu parar defronte dela aquele grupo sinistro.

Reconheceu logo o filho mais velho do seu primitivo senhor, um calafrio
lhe percorreu-lhe o corpo. Num relance de grande perigo compreendeu a situação;
adivinhou tudo com a lucidez de quem se vê perdido para sempre: adivinhou que
tinha sido enganada; que a sua carta de alforria era uma mentira, e que o seu
amante, não tendo coragem para matá-la, restituía-a ao cativeiro.

Seu primeiro impulso foi de fugir. Mal, porém, circunvagou os olhos em
torno de si, procurando escapula, o senhor adiantou se dela e segurou lhe o
ombro.

— É esta! disse aos soldados que, com um gesto, intimaram a desgraçada a
segui-los. — Prendam na! É escrava minha!

A negra, imóvel, cercada de escamas e tripas de peixe, com uma das mãos
espalmada no chão e com a outra segurando a faca de cozinha, olhou aterrada
para eles, sem pestanejar.

Os policiais, vendo que ela se não despachava, desembainharam os sabres.
Bertoleza então, erguendo se com ímpeto de anta bravia, recuou de um salto e, antes
que alguém conseguisse alcançá-la, já de um só golpe certeiro e fundo rasgara o
ventre de lado a lado.

E depois embarcou para frente, rugindo e esfocinhando moribunda numa
lameira de sangue.

João Romão fugira até ao canto mais escuro do armazém, tapando o rosto
com as mãos.

Nesse momento parava à porta da rua uma carruagem. Era uma comissão de
abolicionistas que vinha de casaca! trazer-lhe respeitosamente o diploma de
sócio benemérito.

Ele mandou que os conduzissem para a sala de visitas.

 

 

 

2.4 Enredo -
Conflitos Principais

 

 

 

I)    Ambição x inveja: a inveja e
a ambição são sentimentos muito fortes fincados na alma de alguns personagens
como João Romão, Miranda e Botelho e para eles tudo era possível em nome da
satisfação desses dois sentimentos.

Ex.: “Tinha inveja do outro, daquele outro português que fizera fortuna,
sem precisar roer nenhum chifre; daquele outro que, para ser mais rico três
vezes do que ele, não teve de casar com a filha do patrão ou com a bastarda de
algum fazendeiro freguês da casa!” – Miranda inconformado com o progresso do
cortiço;

“...aquele sovina que nunca saíra dos seus tamancos e da sua camisa de
riscadinho de Angola; aquele animal que se alimentava pior que os cães, para
pôr de parte de tudo, que ganhava ou extorquia; aquele ente atrofiado pela
cobiça e que parecia ter abdicado dos seus privilégios e sentimentos de homem;
aquele desgraçado, que nunca jamais amara senão o dinheiro, invejava agora o
Miranda, invejava-o deveras, com dobrada amargura do que sofrera o marido de
Dona Estela, quando, por sua vez, o invejara a ele.” – João Romão ao saber do
título de Barão concedido ao Miranda;

“A virtude, a beleza, o talento, a mocidade, a força, a saúde, e
principalmente a fortuna, eis o que ele não perdoava a ninguém, amaldiçoando
todo aquele que conseguia o que ele não obtivera; que gozava o que ele não
desfrutara; que sabia o que ele não aprendera.” – Descrição do personagem
Botelho.

 

II)               
Dinheiro x boas maneiras: Miranda não podia se
conformar com o progresso visível do cortiço e com ele a sucessiva ascensão de
seu vizinho: “...custava-lhe a sofrer a escandalosa fortuna do vendeiro “aquele
tipo! Um miserável, um sujo que não pusera nunca um paletó, e que vivia de cama
e mesa com uma negra!”;

“Sem nunca ter vestido um paletó, com vestiria uma casaca?... Com aqueles
pés, deformados pelo diabo dos tamancos, criados à solta, sem meias, como
calçaria sapatos de baile?... E suas mãos, calosas e maltratadas, duras como as
de um cavouqueiro, como se ajeitariam com a luva?...Como deveria tratar as
damas e cavalheiros, em meio de um grande salão cheio de espelhos e cadeiras
douradas?... Como se arranjaria para conversar, sem dizer barbaridades?...” –
João Romão pensando em fazer parte da classe mais alta da sociedade.

III)       Riqueza x Pobreza: esse é
um drama que aflige apenas aqueles que um dia foram pobres e são capazes de
esforços inimagináveis para manter a posição social adquirida. Ex.: “Prezava,
acima de tudo, a sua posição social e tremia só com a idéia de ver-se novamente
pobre, sem recursos e sem coragem para recomeçar a vida...” – pensamento de
Miranda ao lembrar-se das traições da esposa e imaginar-se separado sem o
dinheiro do dote que ela trouxera.

IV)       Novo x Velho: o feitiço
vivido por Jerônimo ao se apaixonar por Rita Baiana sem se importar nunca mais
com os atrativos de sua esposa e assim deixando de lado todos os hábitos e
preferências antigos.

Ex.: “...envolvendo-a na sua coma de prata, a cujo refulgir os meneios da
mestiça melhor se acentuavam, cheios de uma graça irresistível, simples,
primitiva, feita toda de pecado, toda de paraíso, com muito de serpente e muito
de mulher” – o dia em que
Jerônimo
se apaixonou por Rita Baiana;

“e quando a infeliz se aproximou do marido, este, fora de costume,
notou-lhe o cheiro azedo do corpo.” – e a partir do feitiço por Rita Baiana,
Jerônimo nota na mulher coisas que até então passaram desapercebidas; “O
português abrasileirou-se para sempre; fez-se preguiçoso, amigo das
extravagâncias e dos abusos, luxurioso e ciumento; fora-se-lhe de vez o
espírito da economia e da ordem...” – Os novos hábitos e agora permanentes que
Jerônimo passou a ter após a sua união com Rita Baiana.

V)                                      
Homens x Animais: a questão sexual é sempre levada ao
nível do mundo animal fortalecendo a ênfase do desejo sobre a razão.

 

 

Ex.: “E viu o Firmo e o Jerônimo atassalharem-se, como dois cães que
disputam uma cadela da rua; e viu o Miranda, lá defronte, subalterno ao lado da
esposa infiel, que se divertia a fazê-lo dançar a seus pés seguro pelos
chifres; e viu o Domingos, que fora da venda, furtando horas ao sono, depois de
um trabalho de burro, e perdendo o seu emprego e as economias juntadas com
sacrifício, só para ter um instante de luxúria entre as pernas de uma
desgraçadinha...”; “habituou-lhe a carne ao cheiro sensual daquele seu corpo de
cobra...”. Também aqui existe sempre uma relação entre homens e animais que
exacerbam a influência do naturalismo na obra do autor. Ex.: “...o grosseiro
rumor que vinha da estalagem numa exalação forte de animais cansados.”

 

 

 

2.5 - Conflitos Secundários

 

 

 

I)         Portugueses x
Brasileiros: havia naquela época muitos portugueses vindo para o Brasil e
estava sempre entre linhas um problema travado por conta das nacionalidades.
Esse problema se evidencia e se expõe claramente durante a briga entre Piedade
e Rita Baiana. Ex.: “Dois partidos todavia se formavam em torno das lutadoras;
quase todos os brasileiros eram pela Rita e quase todos os portugueses pela
outra.”

II)        Destino x Desgraça: o
desenrolar da trama coloca o destino contra todos os valores morais e desgraça
a vida das mulheres inocentes e puras com um fim triste e repugnante: “homens
malvados abusavam dela, muitos de uma vez, aproveitando-se da quase completa
inconstância da infeliz” – descrição no fim do livro da situação em que ficou
Piedade;

“...o cortiço estava preparando uma nova prostituta naquela pobre menina
desamparada...” – intenção de Pombinha e Léonie em seduzirem a Senhorinha para
seguir a vida como elas.

III)       Menina x Mulher:
Pombinha após a sua tão sonhada transformação em mulher se dá conta do poder
sem limites de uma mulher sobre um homem. Ex.: “Como que naquele instante o
mundo inteiro se despia à sua vista.....ela compreendeu e avaliou a fraqueza
dos homens, a fragilidade desses animais fortes, de músculos valentes, de patas
esmagadoras, mas que deixavam encabrestar e conduzir humildes pela soberana e
delicada mão da fêmea.”

2.6 Enredo – Clímax

 

 

 

O clímax da história é marcado pela briga entre Piedade e Rita Baiana.
Quando as duas brigam violentamente por causa de Jerônimo, marido de Piedade
que está apaixonado por Rita, esta briga envolve todo o cortiço e a disputa
entre brasileiros e portugueses fica evidente. No mesmo momento em que
brasileiros e portugueses iniciam uma briga para defender as suas respectivas
conterrâneas, o cortiço é invadido pelos moradores do cortiço vizinho, que
chegam armados de paus e navalhas com a intenção de vingar a morte de Firmo. Uma
outra briga, ainda mais violenta que a primeira se inicia e só termina quando
todos os moradores se dão conta de que há um incêndio no cortiço. E é após este
evento que toda a estrutura do cortiço é melhorada por João Romão, pois com o
dinheiro do seguro que ele fez na ocasião do primeiro incêndio, ele reforma as
casas destruídas pelo fogo e também melhora as outras casas do cortiço
colocando passeio e iluminação, a partir daí o cortiço aristocratiza-se  pois João começa a receber moradores de classe
social emergente como alfaiates e artistas.

Esta passagem tem a participação de uma amplitude de personagens e pode
ser observada na transcrição de trechos abaixo:

“ (...)E pegaram-se logo a unhas e dentes(...)”

 

“(...) Por algum tempo lutaram de pé, engalfinhadas, no meio de grande
algazarra dos circunstantes. João Romão acudiu e quis separá-las; todos
protestaram. A família do Miranda assomou à janela, tomando ainda o café de
depois do jantar, indiferente, já habituada àquelas cenas. Dois partidos
todavia se formavam em torno das lutadoras; quase todos os brasileiros eram
pela Rita e quase todos os portugueses pela outra.(...).

“(...)E as palavras "galego" e "cabra" cruzaram-se de
todos os pontos, como bofetadas. (...)E o rolo a ferver lá fora, cada vez mais
inflamado com um terrível sopro de rivalidade nacional. Ouviam-se, num clamor
de pragas e gemidos, vivas a Portugal e vivas ao Brasil. De vez em quando, o
povaréu, que continuava a crescer, afastava-se em massa, rugindo de medo, mas
tornava logo, como a onda no refluxo dos mares. A polícia apareceu e não se
achou com animo de entrar, antes de vir um reforço de praças, que um permanente
fora buscar a galope.

E o rolo fervia.

Mas, no melhor da lata, ouvia-se na rua um coro de vozes que se
aproximavam das bandas do "Cabeça-de-Gato". Era o canto de guerra dos
capoeiras do outro cortiço, que vinham dar batalha aos carapicus, pra vingar
com sangue a morte de Firmo, seu chefe de malta.(...)

(...)Um só impulso os impelia a todos; já não havia ali brasileiros e
portugueses, havia um só partido que ia ser atacado pelo partido contrário; os
que se batiam ainda há pouco emprestavam armas uns aos outros, limpando com as
costas das mãos o sangue das feridas. Os cabeças-de-gato assomaram afinal ao
portão. Uns cem homens, em que se não via a arma que traziam. (...)

(...)As navalhas traziam-nas abertas e escondidas na palma da mão. (...)

(...)Os carapicus enchiam a metade do cortiço. (...)

(...)E a batalha principiou(...) Desferiram-se navalhas contra navalhas,
jogaram-se as cabeçadas e os voa-pés.(...). De parte a parte esperavam que o
cansaço desequilibrasse as forças, abrindo furo à vitória; mas um fato veio
neutralizar inda uma vez a campanha: imenso rebentão de fogo esgargalhava-se de
uma das casas do fundo, o número 88. E agora o incêndio era a valer. (...)

 

(...)A Bruxa conseguira afinal realizar o seu sonho de louca: o cortiço
ia arder; não haveria meio de reprimir aquele cruento devorar de labaredas. Os
cabeças-de-gato, leais nas suas justas de partido, abandonaram o campo, sem
voltar o rosto, desdenhosos de aceitar o auxilio de um sinistro, e dispostos
até a socorrer o inimigo, se assim fosse preciso. E nenhum dos carapicus os
feriu pelas costas. A luta ficava para outra ocasião. E a cena transformou-se
num relance; os mesmos que barateavam tão facilmente a vida apressavam-se agora
a salvar os miseráveis bens que possuíam sobre a terra. (...)

(...) Os sinos da vizinhança começaram a badalar. (...)

 

 

 

2.7 Enredo – Desfecho

 

 

 

O cortiço original se transforma em habitação para gente de melhor classe
social, João Romão conquista a confiança de Miranda para casar-se com Zulmira e
Bertoleza vendo-se traída duas vezes por João Romão se suicida na cena final do
livro.

 

2.8 Personagens

 

Definição de personagem, segundo Massaud Moisés:

 

Designa,
no interior da prosa literária (conto, novela ou romance) e do teatro, os seres
fictícios construídos à imagem e semelhança dos seres humanos: se estes são
pessoas reais, aqueles são "pessoas" imaginárias, se os primeiros
habitam o mundo que nos cerca, os outros se movem no espaço arquitetado pela
fantasia do prosado! (Dicionário de
Termos Literários
- Massaud Moisés - Ed. Cultural 2000).

 

Observação: As transcrições de números de páginas a frente da denominação
das personagens, referem-se a qual página do livro pode-se verificar a
apresentação da personagem. O livro utilizado nesta transcrição é O cortiço de
Aluísio Azevedo, da série Bom Livro, edição número trinta e seis, décima
impressão, da editora Ática, 2006.

 

Segue classificação das personagens da obra:

 

1)                                 
O cortiço

Participação:
Protagonista. Personagem redonda porque era o principal responsável por tudo o
que acontecia naquele espaço.

Características:
O Cortiço como protagonista é um exemplo de personificação de algo que é
inanimado e abstrato. Caracteriza-se assim por haver referências no texto como:
“Durante dois anos o cortiço prosperou de dia para dia...”; “Eram cinco da
manhã e o cortiço acordava, abrindo, não os olhos, mas a sua infinidade de
portas e janelas alinhadas.”. E dessa maneira fica evidente o quanto o meio era
o delimitador e orientador das ações humanas. O cortiço era o principal e único
responsável por todas as circunstâncias nele existentes referente aos hábitos e
atitudes de seus moradores.

 

2)                                 
João Romão

Participação:
Protagonista. Personagem redonda porque influencia na vida de Bertoleza e
porque é ele o mentor e construtor do cortiço.

 

Características:
Representa o português que veio para o Brasil e enriqueceu. É extremamente
trabalhador. É amigado com Bertoleza e junto com ela constroem a sua fortuna. É
movido por inveja e uma ambição sem limites que o torna capaz de trapaças,
pequenos e médios furtos. Visto que os seus princípios são baseados em valores
materiais, foi capaz de trair àquela que se dedicou a vida inteira por ele.
Porém mesmo sendo um homem de origens simples é capaz de reconhecer que o
refinamento é algo importante e muitas vezes também parte do negócio para
enriquecer mais.

 

3)                                 
Miranda

Participação:
Antagonista. Personagem redonda porque provoca inveja em João Romão que se move
a partir disso para se tornar um nobre também.

Características:
Miranda é português e igualmente invejoso e ambicioso como o seu vizinho João
Romão. Tem um casamento infeliz e não pode suportar a felicidade alheia. Em
nome da sua inveja traça objetivos para se tornar “melhor” do que João Romão e
a prosperidade de seu cortiço. Mantém-se em seu casamento apenas pela questão
financeira.

 

4)                                 
Bertoleza

Participação:
Secundária. Plana.

Características:
Representa os escravos. Crioula trintona, escrava. Trabalhadora, companheira e
totalmente submissa ao seu amasio (João Romão). Apesar de nunca ter sido
alforriada e acreditando que assim o era, viveu toda a sua vida fielmente ao
lado de João Romão e sempre se comportou como escrava na dedicação ao trabalho.
Trabalhava de domingo a domingo. Nunca se queixava e nunca parava com os seus
afazeres. Confiou cegamente em
João Romão
e não podendo contar que a trairia, se mata na
cena final do livro. A importância da Bertoleza para a obra talvez esteja
refletida na importância da mulher ao lado de seu marido, pois ela é um exemplo
de fidelidade e companherismo.

 

5)                                 
Dona Estela: Secundária. Redonda porque se envolve com
outros homens. Mulher do Miranda. Esposa infiel e nada preocupada com a
reputação do marido nesse sentido.

 

6)                                 
Zulmira: Secundária. Plana. Filha do Miranda e Dona
Estela que deverá se casar com João Romão. O pai tem dúvidas quanto a sua
paternidade.

 

7)                                 
Botelho: Secundária. Redonda porque ajuda João Romão a
arquitetar um plano para se livrar de Bertoleza. Trabalhou com Miranda e depois
por necessidade foi morar em sua casa. Ícone de pessoa amargurada. Representa
todos os infelizes e invejosos que existem.

 

8)                                 
Jerônimo "Hércules": Principal. Redonda
porque se envolve com Rita Baiana e se separa de Piedade. Representa o
Português que veio ao Brasil e se igualou ao malandro carioca. Português de
quarenta e cinco anos, alto, espadaúdo, barbas ásperas, cabelos pretos e
maltratados, pescoço de touro e cara de Hércules, olhos humildes; cavouqueiro;
marido de Piedade. Homem de hábitos regrados, muito trabalhador e muito
econômico. Vivia muito bem com sua esposa. Se tornou funcionário de confiança
de João Romão. E entregando-se aos encantos de Rita Baiana, nunca mais
recuperou seus originais princípios. Apesar de não ter má índole se perdeu com
os valores e com eles as medidas dos limites e por causa de seu novo amor foi
capaz de matar Firmo e de abandonar sua esposa e suas responsabilidades.
Termina infeliz e pobre ao lado daquela que já era tão encantadora como antes.

 

9)                                 
Piedade de Jesus: Secundária. Redonda porque compromete
o futuro da filha. Mulher de Jerônimo com trinta anos, boa estatura, carne
ampla e rija, cabelos fortes de um castanho fulvo, dentes pouco alvos, cara
cheia, fisionomia aberta. Lavadeira, dedicada ao marido e aos seus trabalhos.
Após ser abandonada pelo marido perde o rumo das coisas e passa a beber e a ter
relações sexuais de maneira promíscua.

 

10)                             
Rita Baiana: Secundária. Redonda porque se envolve com
Jerônimo. Mulata de cabelo crespo e reluzente, odor sensual de trevos, quadril
atrevido e rijo, dentes claros e brilhantes. Tinha um caso com Firmo e às vezes
saía também com outros homens. Se envolve com Jerônimo e depois de ele largar a
esposa vão morar juntos num outro estaleiro. Mulher extremamente sensual,
desembaraçada e que gostava muito de dançar.

 

11)                             
Leocádia: Secundária. Redonda porque após se envolver
com Henrique provoca fúria no marido e eles se separam. Mulher de Bruno. Esposa
infiel.

 

12)                             
Bruno: Secundária. Redonda porque expulsa Leocádia de
casa. Marido de Leocádia que trabalhava como ferreiro na pedreira de João
Romão. Suportava as traições da mulher por uma questão de comodidade até que um
dia se revoltou e a expulsou de casa. Não agüentando ficar sem ela, no final da
história pede para que ela volte.

 

13)                             
Augusta "carne mole": Secundária. Plana.
Mulher de Alexandre. Branca. Fiel ao marido e voltada para a vida conjugal.
Passa a vida tendo filhos.

 

14)                             
Alexandre: Secundária. Plana. Policial. Marido de
Augusta. Mulato de quarenta anos, soldado de polícia, pernóstico, de grande
bigode preto.

 

15)                             
Domingos: Secundária. Redonda porque engravidou
Florinda. Caixeiro da venda de João Romão.

 

16)                             
Agostinho: Secundária. Plana. Criança infernal sempre
aos berros com a mãe. Filho de Leandra.

 

17)                             
Albino: Secundária. Plana. Homossexual. Sujeito
afeminado, fraco, cor de espargo cozido com cabelinho castanho, deslavado e
pobre. Aconselhava as mulheres do cortiço e sempre se responsabilizava por
reatar os casais brigados.

 

18)                             
Amante da Das Dores: Secundária. Plana. Homem do
Comércio, português - página 61.

 

19)                             
Andréa: Secundária. Plana. Representa o vendedor
ambulante italiano no Brasil.

 

20)                             
Baleiro: Secundária. Plana. Freguês do cortiço.

 

21)                             
Caixeiro novo: Secundária. Plana. Lista os pratos para
os fregueses na venda de João Romão - página 43.

 

22)                             
Cavouqueiro: Secundária. Plana. Dita a carta para
Pombinha - página 61.

 

23)                             
Comendador: Secundária. Plana.Agostinho regava sua
horta por dois mil réis por mês.

 

24)                             
Companheiro do amante da Das Dores: Secundária. Plana -
página 63.

 

25)                             
Das Dores: Secundária. Plana. Filha divorciada de
Leandra.

 

26)                             
Delporto: Secundária. Plana. Mascate italiano.

 

27)                             
Dois trabalhadores: Secundárias. Planas - página 144.

 

28)                             
Dona Isabel: Secundária. Redonda porque arranja o
casamento de Pombinha e determina quando ele deve acontecer. Mãe de Pombinha.

 

29)                             
Ferreiro: trabalhava junto com Bruno - página 48.

 

30)                             
Firmo: Secundária. Redonda porque esfaqueia Jerônimo.
Amante de Rita Baiana. Mulato, delgado, bigodinho crespo, grande cabeleira
encaracolada negra. Muito gastador e gostava de festas com mulheres.

 

31)                             
Florinda: Secundária. Redonda porque após engravidar de
Domingo, discute com a mãe e vai embora do cortiço, provocando a insanidade de
Marciana. Tinha quinze anos, pele de um moreno quente, beiços sensuais, bonitos
dentes, olhos luxuriosos de macaca. Filha de Marciana. Engravida de Domingos e
após discussão com a mãe, vai embora do cortiço.

 

32)                             
Francesco: Secundária. Plana. Mascate italiano.

 

33)                             
Freitas de Melo: Secundária. Plana. Dono da Bertoleza;
velho cego.

 

34)                             
Grupo de homens: "grupo de homens comendo de
cócoras" - página 50.

 

35)                             
Henrique: Secundária. Redonda porque se envolve com
Dona Estela e com Leocádia. Filho do melhor freguês do Miranda que veio morar
em sua casa para terminar os estudos. Vivia sempre atrás das mulheres,
incluindo a Dona Estela.

 

36)                             
Homem das Sardinhas: Secundária. Plana - página 37.

 

37)                             
Homem que fazia charutos: Secundária. Plana. Morou na
casa 35 - página 52.

 

38)                             
Homem que tocava cinco instrumentos: Secundária. Plana.
Na frente da venda - página 57.

 

39)                             
Isaura: Secundária. Plana. Criada da família do
Miranda.

 

40)                             
João da Costa: Secundária. Plana. Noivo de Pombinha e
posteriormente seu marido, porém seu casamento não prosperou.

 

41)                             
Jornaleiros de baixo salário: Secundária. Plana -
página 67.

 

42)                             
Juju: Secundária. Plana. Filha de Augusta e Alexandre
criada pela madrinha Léonie.

 

43)                             
Leandra "a machona": Secundária. Redonda.
Portuguesa feroz, berradora, pulsos cabeludos e grossos, anca de animal do
campo. Lavadeira que tinha três filhos que não se pareciam uns com os outros,
ninguém sabia se era viúva ou separada.

 

44)                             
Léonie: Secundária. Redonda porque assedia sexualmente
Pombinha. Madrinha de Juju. Prostituta de origem francesa.

 

45)                             
Leonor: Secundária. Plana. Criada da família do Miranda

 

46)                             
Libânia: Secundária. Plana - página 61.

 

47)                             
Libório: Secundário. Plana. Judeu octogenário,
miserável que escondia dinheiro embaixo do colchão.

 

48)                             
Luís: Secundária. Plana. Irmão da esposa do cavouqueiro
- página 61.

 

49)                             
Macaqueiros: Secundárias. Planas. Fazedores de
paralelepípedos na pedreira de João Romão - página 49.

 

50)                             
Machucas: Secundária. Redonda porque indicou Jerônimo
para João Romão.

 

51)                             
Mãe da Rita Baiana: Secundária. Plana - página 63.

 

52)                             
Manduca da Praia: Secundária. Plana - página 63.

 

53)                             
Manuel: Secundária. Plana. Caixeiro da venda de João
Romão.

 

54)                             
Marciana: Secundária. Redonda porque bate em Florinda
fazendo ela fugir do cortiço, enlouquece por causa disso. Mãe de Florinda.
Mulata velha muito séria com mania de limpeza.

 

55)                             
Marianita “Senhorinha”: Secundária. Plana. Filha de
Jerônimo e Piedade. Ocupa o antigo lugar de Pombinha no cortiço e provavelmente
será quando adulta prostituta.

 

56)                             
Maricas do Farjão: Secundária. Plana. Morreu na casa 35
- página 52.

 

57)                             
Melhor funcionário da pedreira de João Romão: morreu
após um desastre - página 45.

 

58)                             
Moleque que acompanhava Rita Baiana: Secundária. Plana.
Carregava as compras dela - página 57.

 

59)                             
Moradores do cortiço: página 67.

 

60)                             
Mulher do cavouqueiro para quem iria a carta escrita
por Pombinha: página 61.

 


  1. 58. Nenem: Secundária. Plana. Filha de Leandra.
    Espigada, franzina e forte.

 

61)                             
Nhá Dunga: Secundária. Plana. Moradora do cortiço -
página 36.

 

62)                             
O Padeiro: Secundária. Plana - página 36.

 

63)                             
Operários das fábricas: Secundárias. Planas.
"Chegavam na venda para o almoço" - página 43.

 

64)                             
Ourives: Secundária. Plana. "Aquele outro que
trabalhava de ourives" - página 52.

 

65)                             
Pataca: Secundária. Redonda porque ajuda Jerônimo a
matar Firmo e se envolve com Piedade - página 140.

 

66)                             
Patrão de Jerônimo da pedreira de São Diogo:
Secundária. Plana - página 54.

 

67)                             
Paula "bruxa": Secundária. Redonda porque
incendeia o cortiço. Cabocla velha, extremamente feia, grossa, triste, com
olhos desvairados, dentes cortados à navalha, cabelos lisos e ainda retintos.
Respeitada pelos “benzimentos”. Após a expulsão de Marciana do cortiço,
desenvolve comportamento psicótico e por duas vezes tentou incendiar o cortiço
conseguindo apenas na segunda. Após ser atingida pelo fogo, morre.

 

68)                             
Pombinha: Secundária. Redonda porque se separa do
marido e se torna prostituta. Filha de Dona Isabel; flor do cortiço. Sempre se
comportou de maneira muito discreta e educada até que depois de se casar com
João da Costa e incentivada por uma experiência homossexual passada com Léonie
resolve também virar prostituta.

 

69)                             
Pompeo: Secundária. Plana.Mascate italiano.

 

70)                             
Porfiro: Secundária. Plana. Cabelo encarapinhado, não
dispensava gravata com laço frouxo, fazia questão da bengala com cabeça de
prata e piteira de âmbar e espuma. Amigo de Firmo.

 

71)                             
Português amigado com Bertoleza: Secundária. Plana.
Morre no começo do livro.

 

72)                             
Português dono do Cabeça-de-Gato: Secundária. Plana - página
 131.

 

73)                             
Rapazito de Paletó: Secundária. Plana - página 41.

 

74)                             
Rapazitos: Secundárias. Planas."Tratando do jantar
dos pais" - página 50.

 

75)                             
Roberto Papa-Defuntos: Secundária. Plana - página 160.

 

76)                             
Seu Bento: Secundária. Plana - página 147.

 

77)                             
Sucessores do patrão de Jerônimo da pedreira de São
Diogo: Secundárias. Redondas porque fizeram uma reforma na pedreira que
desgostou Jerônimo – página 54.

 

78)                             
Um empregado de João Romão: Secundária. Plana - página
202.

 

79)                             
Um mulatinho: Secundária. Plana - página 139.

 

80)                             
Um urbano: Secundária. Plana - página  132.

 

81)                             
Um vendedor de peixe: Secundária. Plana - página 132.

 

82)                             
Uns cem homens: Secundárias. Redondas porque vinham
brigar com os moradores do cortiço de São Romão - página 165.

 

83)                             
Valentim: Secundária. Plana. Filho de uma escrava que
foi de Dona Estela. Mora em sua casa.

 

84)                             
Vendeiro: Secundária. Plana.

 

85)                             
Zé Carlos: Secundária. Redonda porque ajuda Jerônimo no
assassinato de Firmo.

 

Secundárias
e planas:

 

86)                             
"... As mães dos outros dois...": página 192.

 

87)                             
"...a criada...": página 118.

 

88)                             
"...a uma companheira...": página 97.

 

89)                             
"...abastado conselheiro...": página 131.

 

90)                             
"...advogados...": página 198.

 

91)                             
"...ajudado pela mulher...": página 199.

 

92)                             
"...alfaiate...": página 199.

 

93)                             
"...artista dramático...": página 200.

 

94)                             
"...artistas...": página 198.

 

95)                             
"...caixa...": página 198.

 

96)                             
"...caixeiros de botequim...": página 183.

 

97)                             
"...cambistas...": página 198.

 

98)                             
"...capatazes...": página 198.

 

99)                             
"...capitalistas...": página 198.

 

100)                         
"...cheia de visitas...": página 108.

 

101)                         
"...cinco filhas solteiras...": página 131.

 

102)                         
"...cocheiro de calção...": página 168.

 

103)                         
"...comissão de abolicionistas...": página
207.

 

104)                         
"...condutores de bondes...": página 183.

 

105)                         
"...contínuos de repartição...": página 182.

 

106)                         
"...corretores de praça...": página 198.

 

107)                         
"...criados...": página 203.

 

108)                         
"...despachante de estrada de ferro...":
página 199.

 

109)                         
"...despachante...": página 198.

 

110)                         
"...dois rapazitos...": página 192.

 

111)                         
"...duas praças...": página 206.

 

112)                         
"...e mais três operárias...": página 199.

 

113)                         
"...empregados das secretarias...": página
203.

 

114)                         
"...empregados públicos...": página 198.

 

115)                         
"...empresários de teatro...": página 198.

 

116)                         
"...estudantes...": página  198.

 

117)                         
"...filhinha da Augusta...": página 168.

 

118)                         
"...fundadores de jornais...": página 198.

 

119)                         
"...gente miúda do povo...": página 198.

 

120)                         
"...gordos fazendeiros de café...": página
201.

 

121)                         
"...grupo de curiosos...": página 192.

 

122)                         
"...grupo de moços do comércio...": página 199.

 

123)                         
"...grupo dos jornalistas...": página 203.

 

124)                         
"...grupos de senhoras...": página 202.

 

125)                         
"...guarda-livros...": página 198.

 

126)                         
"...italianos...": página 183.

 

127)                         
"...levando um outro filho ao colo...": página
144.

 

128)                         
"...mãe viúva...": página 131.

 

129)                         
"...mais três caixeiros": página 133.

 

130)                         
"...mais uma amiga...": página 110.

 

131)                         
"...moças e meninas...": página 108.

 

132)                         
"...o médico...": página 116.

 

133)                         
"...ó pequeno...": página 148.

 

134)                         
"...o sargento...": página 114.

 

135)                         
"...o vendeiro da esquina...": página 147.

 

136)                         
"...os companaheiros...": página 133.

 

137)                         
"...os quatro primeiros urbanos...": página
114.

 

138)                         
"...os que entravam de fora...": página 113.

 

139)                         
"...pequenas famílias de operários...": página
198.

 

140)                         
"...portuguesinho da espelunca...": página
140.

 

141)                         
"...praticantes de secretaria...": página
198.

 

142)                         
"...primeiros, segundos e terceiros
caixeiros...": página 198.

 

143)                         
"...quatro filhas e dois filhos...": página
199.

 

144)                         
"...rapazola magro, de lunetas, bigode
louro...": página 70.

 

145)                         
"...relojoeiro calvo...": página 199.

 

146)                         
"...repórteres...": página  203.

 

147)                         
"...serventes...": página 202.

 

148)                         
"...subdelegado...": página 115.

 

149)                         
"...sujeito barbado, careca e comido de
bexigas...": página 70.

 

150)                         
"...trabalhadores da pedreira...": página
111.

 

151)                         
"...um alafaiate...": página 106.

 

152)                         
"...um boêmio de talento...": página 200.

 

153)                         
"...um caixeiro...": página 108.

 

154)                         
"...um caixeiro...": p%2